sábado, 13 de agosto de 2011

Para as coisas que foram e que sempre serão

Surge naqueles momentos de silêncio interno, quando se ouve no início um chamado longínquo, que em seguida ecoa forte, quase insuportavelmente nítido. Você pode estar sozinha (o), num lugar íntimo, num “inferninho” barulhento, no meio de uma multidão desconhecida ou entre aqueles que não se cansam de chamar seu nome. De repente você olha para o lado, e lá está ela: a ausência.

Saudade concentra sentimentos gostosos e agradáveis, mas como todos os sábios paralelos, sentimentos pontiagudos e azedos também fazem parte. E quase sempre vem com válvula de escape, o Enter, o botão vermelho que não sabemos bem se devemos ou não apertar.
Tardes de sol sem vento geralmente me trazem lembranças melancolicamente doces do lugar de onde vim. Do bairro tranquilo e ensolarado onde passei meus primeiros anos de vida, do céu gigantesco que gostava de contemplar do terraço de casa, nas manhãs de domingo, escondida dos meus pais, vendo aquela imensidão azul e, quando a sorte apontava, alguma pipa ou balão perdido. Ahhh... Aquela infância...
Gosto de sentir saudades. Longe da psicologia, psiquiatria, estudos técnicos e biológicos, saudade é beber um copo d’água com sede e sentir o fluir do líquido escorregando corpo adentro, deslizando pelos sulcos, refrescando regiões e saciando com simplicidade uma necessidade. Mas, importante dizer que nem sempre a água estará na temperatura ambiente, podendo às vezes estar gelada e descer queimando.
Quando eu era adolescente me irritava ao lembrar-me das coisas que tinha, ou vivido menos do que gostaria, ou do excesso do que havia vivido. Amorecos, brigas, situações e momentos peculiares. E essa forma esquisita de lidar com a ausência daquilo que de alguma forma ainda me fazia falta durou por muito tempo, até, de fato, passar por um forte momento... Quem não o tem? Daquelas coisas que a gente faz ou vive e pensa após o fim, “Será que eu vou esquecer...?”.
E eis que um dia você acorda e percebe que, sem tudo aquilo pela qual passou, viveu, sorriu e sofreu, não seria quem o é hoje.
Ok, nem sempre é fácil. Ok, quase sempre é muito mais para o difícil do que para o fácil! Mas pode acontecer assim, ou de qualquer outro jeito que acaba nos fazendo enxergar o presente e quem sabe o futuro, com mais brilho, ou pelo menos, menos turvo.
Não falo da memória, essa é um poço sem fim. Falo daquele sentimento que, para mim, é sempre positivo para meu amadurecimento. Hoje limpo minhas gavetas com gosto, tendo um trabalho danado, às vezes, para organizar ideias e sentimentos, mas quase sempre, saudade vem acompanhada da ausência de alguma coisa que em algum momento me fez eternamente por alguns segundos ou anos, feliz como jamais imaginei.
Acabou mal? Te fez sofrer? Está longe e fora de cogitação voltar para aquele lugar e tempo? As palavras sem dúvida seriam outras com a cabeça que você tem hoje?
Escute o chamado, agradeça o sentimento, e sacie a sede, que só vem naturalmente quando há a necessidade. Um coração saudoso só faz fluir melhor as águas que correm aí dentro.

Por: Paloma Portela