quinta-feira, 26 de abril de 2012

Mulheres ausentes



Tem se comentado com frequência que matamos o feminino em nossa sociedade. Personalidades como Fritjof Capra e Marina Silva são alguns dos que reconheceram essa defasagem histórica em relação à atuação da mulher na vida cotidiana.
Qualidades muito presentes no universo feminino, como o zelar e o cuidar, dos outros e do planeta, há muito estão em baixa na história de nossa sociedade. As mulheres, que se destacam por uma especial habilidade nas relações humanas, em termos de cuidado, atenção, carinho, percepção, compreensão e intuição, tem suas virtudes sendo procuradas como um item em falta nas prateleiras do dia-dia.



Até o mundo empresarial hoje reconhece o papel fundamental que as mulheres exercem em uma organização, principalmente no que se refere à sociabilidade, negociação, comunicação e promoção de um ambiente de trabalho mais humano, saudável, agradável, e por conta disso, também mais produtivo e estimulante.


A ideia aqui não é, de maneira nenhuma, contrapor mulheres e homens, alimentando uma rixa cansativa, dispendiosa e sem sentido, mas notar que, ao longo dos séculos, nossa sociedade tem se pautado por atos e fatos de caráter extremamente racionalista e materialista. Carente da atuação da sensibilidade feminina, a vida assiste o desenvolvimento de um mundo mais frio, competitivo bruto e violento. Isso de maneira nenhuma como uma expressão legítima da masculinidade, mas apenas como manifestação do embrutecimento desta, sem o contraponto feminino exercido em plena capacidade de suas potencialidades. Mulheres estão ausentes.


Se refletirmos apenas por um instante sobre o fato de que a maior parte de todas as pessoas existentes hoje no mundo, em algum momento de suas vidas, dependeram da atuação de uma mulher, reconheceremos que paira sobre nós uma imensa responsabilidade.


De forma bastante lógica, e sem excluir a atuação paterna no que se refere à criação e valores de um indivíduo, a mulher tem um papel decisivo na formação e condução de uma sociedade inteira.


Não que ela deva ou possa ter controle absoluto sobre isso, excluindo as manifestações individuais da personalidade dos filhos. Mas percebe-se como cada gesto, palavra ou ensinamento ausente, se fará sentir mais tarde na vida adulta como um espaço vazio, a ser facilmente preenchido por valores de cunho negativo. Negativo aqui, não em sentido religioso ou moral, mas do ponto de vista do que é mais hábil ou inábil para o desenvolvimento saudável de um organismo ou célula, como a sociedade, os grupos e as famílias o são. O que trabalha para sua construção e manutenção, e não autodestruição e aniquilamento. Uma concepção mais natural, que vigora acima das diferenciações advindas da cultura, credo, legislação ou personalidade individual, e que caminha no sentido de uma comunidade humana de valores universais, possíveis de serem partilhados em benefício da maioria.


Mas não é somente no sentido maternal ou familiar que a feminilidade exerce seu papel. 


Se a mulher que não for capaz ou não quiser gerar filhos for destituída de seu valor feminino, o que lhe resta? Pensemos nisso. A mulher é mulher, antes ou depois de ser mãe, sendo ou não sendo mãe. Seus valores (se descobertos e nutridos), a acompanham de forma influenciadora em relação aos grupos nos quais se insere ou está presente, em qualquer fase da vida, atingindo uma abrangência social. 


Durante muito tempo a mulher foi abafada sob uma camada de opressão que pouco evidenciava ou estimulava suas qualidades essenciais e fundamentais: tecelã de relações e conexões (não somente entre pessoas, mas entre ideias, acontecimentos e sentimentos), e por isso de grande poder de influência, ela é o que se poderia chamar de harmonizadora em um organismo sistêmico.


Enquanto que o homem apresenta ótima desenvoltura em atividades de cunho mais pontual, cujo conceito polar positivo remonta à força, coragem, destreza, resistência, ação e realização, é a mulher quem ajuda a manter, conciliar, balizar, conduzir, nutrir e entremear estes processos, também por conta de seu papel social e sua ancestral relação com esferas como a criação, educação, gestação, alimentação, reflexão, mediação,  beleza (em seu sentido expandido e não mercadológico), organização, zêlo, acolhimento e hospitalidade (no sentido da conservação de um lar).


Sua sensibilidade e atributos conferem a ela um papel sobre o qual não é possível se ausentar sem prejuízo, pois faz parte de sua concepção influenciar e acalentar de forma sistêmica e generalizada toda a teia de uma configuração social.


Livres de uma condição histórica paralisante e submissa no passado, que faremos agora com um legado social, ambiental e cultural que há muito pede uma compensação na forma de uma atuação feminina? Quão ausentes temos sido de nossa própria condição?


Por: Caroline Derschner

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