segunda-feira, 13 de junho de 2011

Arrastando sofás...

A gente mexe daqui, mexe dali, tira do lugar, arrasta, empurra, levanta... E haja dor nas costas, depois... Ontem fiz (mais) uma mudança em casa. Dessa vez só no quarto, que já há muito tempo vinha me incomodando pelas paredes e móveis sem vida.

A maior parte das pessoas que conheço gosta muito de mudanças caseiras, meninos e meninas. Quando eu tinha uns 16 anos, uma amiga – com quem infelizmente perdi o contato – e eu trocávamos muitas figurinhas sobre formas diferentes de arrumar e decorar a casa, principalmente nossos quartos, que eram nosso espaço, de fato, para soltarmos toda a liberdade criativa. Ela dizia que após as mudanças feitas, gostava de ficar entrando e saindo, por várias vezes do quarto, só pra ter o gostinho de entrar num “espaço novo”, cheio de novidades! E eu concordo, surge uma sensação sempre gostosa após certas mudanças...

Mulheres, em especial gostam de mudar. Em geral, mudam os cabelos após um final de relacionamento, a cor do esmalte quando o humor se altera, os móveis da casa após um longo tempo com tudo sempre no mesmo lugar, os azulejos do banheiro, o jardim, o guarda-roupa (principalmente quando se faz aquela superlimpeza, com roupas boas para doação), panelas de um armário para outro, os livros na estante, a maquiagem, o piso da sala, tapetes, enfim, todas aquelas pequenas coisas que compõe o universo peculiar de cada uma.

Porém, mudanças nem sempre são coisas assim, tão simples, externas e de fácil aceitação. Compartilho da ideia de que essas mudanças mais claras são na verdade, reflexo de um mundaréu de coisas que já estão acontecendo dentro de nós.

Preciso confessar que às vezes tenho uma necessidade doida de fazer uma faxina daquelas, em casa, e mudar tudo de lugar! E a sensação após essa aventura não é algo meramente externo. Em geral, essa vontade sempre bate quando estou com algum problema mal resolvido, ou alguma preocupação insistente. Coincidência? Quem sabe...

Mudar o cabelo certamente não te ajudará muito a resolver todos os conflitos internos que acometem nossas cabecinhas, depois de uma ruptura definitiva com o namorado. Mas sim, pode ajudar, em certa medida, a recuperar a imagem que você, em algum momento deixou de ver de si própria, e que entregou de bandeja nas mãos de outra pessoa. Em geral, é o chamamento pela autoestima, que deve ter ido pra bem longe. Parece uma mudança bem mais forte e profunda do que só cortar ou pintar as madeixas...

Nossas vidas passam por mudanças quase todo tempo. E quer saber, acho que isso acontece de um jeito tão silencioso que muitas dessas vezes nem percebemos! Quando você ouve uma música, que te faz lembrar-se de algo, não muda seu dia? Quando você experimenta um novo sabor maravilhoso, ele não poderia destronar aquele outro sabor que até então era o seu preferido, e se tornar o atual? Essas são as mudanças silenciosas e relativamente tranquilas. Mas e aquelas que nos assustam? Que interferem no nosso modo de ser e de conviver com situações até então novas? Insistindo no caso do cabelo, e depois que você sai do salão? O que acontece? Ou quando perdemos algo ou alguém de forma repentina ou paliativa, mudar de emprego, mudar de cidade ou país, sair da casa dos pais, tornar-se pai, iniciar uma nova relação, morar junto com alguém, mudar hábitos (saúde, alimentação, manias)...?  

Conheço pessoas que odeiam mudanças (sim, ‘odeiam’, elas usam essa palavra!).
Mas o que é a vida sem mudanças? Mudar é movimento, e movimento é vida. O planeta gira e temos com essa rotação o dia e a noite, para sair, trabalhar, estudar, repousar, conhecer pessoas, ficarmos sozinhos... Temos também, nesse enorme movimento, as estações do ano, que sem dúvida exercem grande influência sobre nosso cotidiano. Mudamos também quando crescemos, e nos desperta uma vontade de aprender algo: ciência, música, natação, literatura, etc. E quando as mudanças não surgem de uma vontade interior nossa, mas pressentimos que algo está esquisito, algumas situações começam a surgir em nossas vidas, como que nos mostrando que já está na hora de mudar... São sinaizinhos simples, como uma goteira no teto, uma briga sem motivo, uma conversa estranha, mofo nas paredes, cabelo sem graça... Tenho a impressão de que são situações que pedem emergência para serem observadas com cuidado, e que caso nos sintamos tocados, algo deve ser feito.

Ou seja, quase toda mudança pede uma reflexão, quase toda experiência de vida pede uma avaliação, pra sabermos se valeu a pena, ou não, agir de determinada forma.

Acho que o essencial é não termos receio de passarmos por transformações. É só lembrar que pra tudo na vida, o movimento se faz presente. Para os grandes astros no universo (estrelas nascem e morrem todos os dias e nem nos damos conta de que com essas mudanças muita matéria no universo se desfaz e se renova) até aos pequenos elementos mais simples na vida (como uma garota, que após muitas reviravoltas, resolveu tirar todas as velharias de casa e modificar seu mundinho). Mudar conscientemente é mudar com amor a si próprio.  

Por: Paloma Portela

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