terça-feira, 21 de junho de 2011

Filhos sustentáveis?

Outro dia fui ver um documentário curioso chamado “Receitas de um Desastre”. O filme mostrava os apuros de uma família finlandesa que tentou reduzir ao máximo seu impacto ambiental durante um ano. Vamos imaginar: uma família de classe média, pais empregados, um carro, duas crianças pequenas e muito frio. Até aí nada de novo. Mas se você pensar que ao final do documentário, ou melhor, do ano incomum vivido pela família finlandesa, eles chegaram à conclusão de terem economizado o equivalente ao impacto ecológico que dez famílias indianas produzem no mesmo período...

Eu não sei qual é o perfil de consumo médio de uma família indiana. Sei que na Índia não faz tanto frio como na Finlândia, nem parece ser um costume generalizado de lá levar os filhos de carro no colégio, longe disso. Mas, dessa relação de equivalência entre famílias, me chamou a atenção como a conscientização e o esforço de quatro pessoas, duas delas, “pessoinhas” ainda, valeram o impacto de tanta gente no final das contas.

O tal do título “Receita de um desastre” acredito que tenha ficado por conta do rebuliço familiar que as medidas adotadas pelo Papai ecológico causaram, como não comprar absolutamente NADA que tivesse embalagem plástica no supermercado (o que beirava o impossível), vetar qualquer derivado do petróleo em casa e olhar feio até para o papel higiênico no banheiro.

Os filhos participavam da empreitada com a animação e a adrenalina que nós, adultos, deixamos de sentir a algum tempo em muitas áreas da vida. A mãe nem tanto. E ninguém gostava de ficar sem ver televisão, nem andar a pé na neve ou na chuva, ao invés de usar o carro.

Mas se a conversa principal dentro da família era sobre as “pegadas ecológicas” que eles deixavam, fazendo pequenas escolhas, (que no final, pesaram tanto quanto as escolhas das tais das dez famílias indianas), me parece que a maior “pegada de todas”, foi o impacto dessa mudança deixado nas crianças.

Entre a seriedade e a brincadeira que todas aquelas situações estranhas causavam aos pequenos, a importância das decisões sustentáveis pareceu ganhar para eles um contorno muito mais palpável, do que aqueles que atingem as crianças através de campanhas que dizem que “é importante cuidar do meio ambiente”. Afirmações que fazem sentido para nós adultos, mas que sem exemplos práticos podem ficar um tanto distantes para os pequenos.

Quando o Papai-sustentável do filme levava seus filhos para passear no parque, ele mostrava como as árvores da região estavam se modificando por conta do clima, como o barulho dos motores e aviões da cidade afastavam os pássaros e como o termômetro de sua casa se comportava de modo muito estranho em comparação aos anos anteriores.

Os dois meninos não receberam “catequização ambiental” de cartilha. Eles viam no dia-dia exemplos reais que davam sentido às escolhas dos pais. Como crianças não gostam de ficar sem respostas, elas acabaram sabendo que a energia solar que vinha do telhado ou as noites à luz de velas, tinham a ver com o derretimento das calotas polares, com o aumento do nível dos mares e com a escassez de peixes no mercado.

Em termos de educação ambiental ao menos, a família finlandesa merecia nota dez. Lógico que seu papai visionário cometia alguns excessos que deixariam qualquer família mais moderada e equilibrada em situação “insustentável”. Mas essa correspondência lógica entre causa e efeito, associando problemas ecológicos ao cotidiano, que pode fazer falta aos mais novos quando o assunto é Meio ambiente, estava ali tão evidente como nunca.

Se essa experiência toda valeu muito ou pouco, eu não sei. Só sei que para aqueles meninos, provavelmente a aula de Educação Ambiental no colégio ganhou um sentido bem diferente, ou no mínimo, uma corzinha “a mais”. Não ficou só verde como se pinta por aí, mas também mais colorida, já que foi pintada com as cores inesquecíveis da realidade.

Por: Caroline Derschner

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